Quando Jesus disse que para ser Seu discípulo a pessoa teria que negar-se a si mesma, tomar sua cruz e segui-Lo, o que desejava Ele dizer?
Sim! Qual seria o objetivo disso? Pra que a fim de Segui-Lo alguém tem que negar tanto e carregar o peso de sua cruz? Que desejo é esse pelo não-desejo? E o que se ganha com tal escolha para o ser? Seria o propósito de tal negação o mesmo caminho de anulação da pessoalidade conforme outros “caminhos” espirituais? Ou, de fato, seria-é este o único modo de um homem poder alcançar a si mesmo? Seguir a Jesus no fim não é a mesma coisa que encontrar a si mesmo? Ou haveria um caminho para o homem consigo mesmo e um outro dele com Deus?
Na realidade a religião nos fez ver o chamado de Jesus ao discipulado como sendo algo de natureza comportamental [na maior parte das vezes significando um modo de ser e expressar diminuído] e, quando tem sua aplicabilidade na natureza subjetiva das coisas, sempre o é como algo subjetivo-castrante.
Ou seja: a lógica de tudo isto seria que o mundo é mal, o homem é caído e cheio de desejos perversos; e, a fim de mostrar que de fato deseja a vida eterna, ele deve desistir aqui de tudo aquilo que não haverá lá; pois, lá, tudo o que é fugazmente bom, gostoso e apetecível aqui, não terá lá seu lugar... — supostamente.
Embora ninguém conheça qualquer coisa mais próxima do eterno que o momento; digo isto de modo não existencialista [que jamais seria], mas sim do ponto de vista do significado existencial que há entre o Eu-Sou e o Hoje.
Eu-Sou e Hoje São. É. Hoje é. Eu-Sou é. Eu-Sou-Hoje é. Por isso Hoje é Dia de Salvação!
Mas voltando a nós mesmos, a questão é: ao nos chamar para segui-Lo de modo a largarmos a nós mesmos e tomarmos cada um a sua cruz, o que Jesus deseja fazer de nós?
Queria Ele que nosso caminho fosse sofrido como o Dele? Ou Ele apenas dizia com palavras de negação aquilo que de fato leva ao caminho da maior expansão e da maior ampla utilização do potencial humano; ou melhor: do potencial de cada um de nós?
Seria possível que Aquele que nos chama para a Vida Abundante se contradiga nos chamando para uma Existência Podada?
Ora, para entendermos apenas um pouquinho o sentido do que Jesus no diz, temos que compreender que o significado espiritual da ordem-convite de Jesus é inversa ao sentido que a religião propõe; e isto fica claro quando “Jesus é a Chave Hermenêutica” para a compreensão de Jesus mesmo, no que Ele diz, propõe e ensina; pois, outra vez, a fim de sabermos o significado do que Ele disse, basta vermos Nele o Verbo Encarnado, e, assim, entendermos Seu chamado pelo modo como Ele caminhou. Afinal, o chamado é para segui-Lo.
Para Jesus o negar a si mesmo não implicou em morte de nada que é vida, mas apenas na morte de tudo o que mata.
Assim, “o negar a si mesmo” é negar o lado suicida da existência; e que compõe a maior parte do que chamamos “vida”.
Desse modo, “negar a si mesmo” é o que nos leva à vida abundante; pois, o que chamamos “vida” é o que Deus chama morte desde o Éden.
O “si-mesmo” do homem é todo ele forjado na Árvore do Conhecimento do bem e do mal, com todas as suas invejas, disputas, inseguranças, homicídios, competições, porfias, comparações, vaidades, orgulhos, jactâncias, arrogâncias, superioridade, domínio, controle, poder, e tudo o mais que é essencial no mundo “do bicho-homem” —; e que pensa que ele existe melhor se puder ficar no controle de tudo como um deus-bicho.
Para Jesus o homem tem que desistir do bicho. Esse é o significado de negar a si mesmo.
Sim! Porque somente quando o homem nega o bicho e o mata em si todos os dias, até que ele morra de fato, e de fato seja morto todo dia como um fato-ser da existência da pessoa [este é o alvo] — é que o potencial do Homem pode encontrar seu lugar de projeção do interior para a mente e para o olhar da vida. E, daí, se tornar um rio de vida no toda da existência.
O “si-mesmo” animal do bicho no homem é o que se torna o teto grosso e espesso que o impede de se desenvolver até a estatura do Homem; ou do Vão Perfeito, no dizer de Paulo.
O “si-mesmo” é o que nos dá esta estatura nanica em todas as dimensões de nosso ser.
Afinal...
Na vaidade quem observa a beleza que não seja em si mesmo ou, no outro, como cobiça apenas?
Na arrogância, quem aprende?
Na intolerância, quem aprende a olhar, ver e amar?
Na competição, quem serve?
Na disputa quem compreende?
Na força, quem não testa o outro?
Na cobiça quem não mata?
Na comparação quem não se perde?
Na busca de controle quem não se escraviza?
Vivendo para o “si-mesmo” quem não perde o próprio ser?
Por: Caio Fábio
Por: Caio Fábio
Nenhum comentário:
Postar um comentário